Comércio exterior, mineração, logística e indústria pesada carregam décadas de tradição e também um jeito muito próprio de trabalhar, com hierarquias rígidas, carreiras lineares e a ideia de estabilidade de longo prazo sempre foram regra. Mas, para a geração que está chegando agora ao mercado, esse modelo já combina com eles.
Crescidos em um cenário de mudanças rápidas, digitalização e novas pautas sociais, os jovens têm dificuldade em se encaixar em ambientes que ainda resistem a flexibilizações e inovação. Enquanto discursos sobre transformação digital se multiplicam em relatórios e eventos, a prática em boa parte dessas empresas segue analógica, com lideranças pouco abertas à diversidade e a um ritmo de mudança lento.
Para Nícolas Reig, CEO da Invoice agência especializada em comunicação para o comércio exterior , existe um descompasso claro:
“As empresas insistem em mensagens centradas em ‘segurança’ e ‘tradição’, mas a geração que está entrando no mercado busca outra coisa. Quer propósito, flexibilidade e oportunidades para contribuir ativamente. Quando isso não é considerado, o setor perde competitividade na disputa por talentos.”
O risco de perder os novos profissionais
O resultado aparece na dificuldade crescente em atrair e reter jovens, que acabam migrando para áreas mais abertas ao debate de propósito. Se antes o trabalho era o centro da vida de quem atuava nesses setores, hoje qualidade de vida e liberdade pesam tanto quanto a carreira.
“Para os jovens, o trabalho continua importante, mas a relação mudou. Eles não enxergam a carreira como o único eixo da vida — e isso não significa falta de comprometimento. É equilíbrio: dedicação profissional somada a bem-estar e desenvolvimento pessoal”, explica Reig. “Falta ajustar a comunicação para mostrar que há espaço para modernização e valorização plena, não só em benefícios tradicionais.”
De discurso a prática: como se modernizar
Mais do que adaptar processos, é hora de repensar cultura e linguagem. Reig defende que os setores conservadores precisam abrir espaço para inovação, falar com clareza e usar canais onde essa geração realmente se informar nas redes sociais, por exemplo.
“Em vez de apenas se adaptar, é preciso modernizar a forma de pensar. Os jovens querem se identificar com o que as empresas comunicam e saber que suas opiniões importam. Quando a conversa é aberta e alinhada aos seus princípios, a relação evolui de distanciamento para colaboração — e esses setores voltam a ganhar força na disputa por talentos.”