A cada Black Friday, o mercado de influência repete o mesmo cenário: campanhas em massa, prazos apertados e um volume de entregas que deixa pouco espaço para erros. Mas, entre e-mails, briefings e roteiros, existe uma camada silenciosa , e decisiva , que define se a campanha vai terminar bem ou com dor de cabeça: o contrato.
Conversamos com a advogada Maria Eduarda, especialista em contratos para influenciadores, para entender como os criadores podem se proteger em um dos períodos mais caóticos do ano.
O contrato não é um detalhe , é a linha de defesa
Antes de qualquer gravação, a advogada reforça que o influenciador precisa encarar o contrato como ferramenta de segurança, não como formalidade.
Como ela explica:
“Antes de fechar qualquer campanha, o influenciador precisa entender que o contrato é a principal ferramenta de proteção – e não apenas um ‘detalhe burocrático’.”
Em períodos como a Black Friday, cláusulas vagas ou mal explicadas podem virar brechas para atrasos de pagamento, exigências extras ou “aprovações subjetivas” que deixam o criador refém do cliente. Por isso, prazos precisam estar bem definidos , inclusive se são contados em dias úteis ou corridos , e é fundamental evitar condições que vinculem o pagamento a marcos sem data clara.
Outro ponto que Maria Eduarda destaca é a necessidade de limitar a liberdade da marca de alterar as regras no meio do caminho.
Ela alerta para cláusulas que permitem adiar o pagamento ou ampliar o escopo sem reajuste, e reforça a importância de prever multa por atraso, possibilidade de suspender entregas e, quando possível, um sinal na assinatura.
Os pontos que influenciadores nãodeveriam ignorar
Grande parte dos problemas surge porque, na pressa, muitos criadores aceitam contratos que não deixam claras as condições de entrega, uso de imagem e penalidades. Isso abre espaço para cobranças que nunca foram combinadas.
Maria Eduarda resume bem esse cuidado:
“O contrato precisa deixar claro quantos conteúdos serão feitos, em quais formatos, prazos de entrega, número de versões ou ajustes incluídos e quais são os canais oficiais de aprovação.”
No uso de imagem, ela reforça atenção extra a direitos “perpétuos” ou sem limitação geográfica, que podem desvalorizar o trabalho do influenciador. E, no bloco de remuneração, alerta sobre multas desproporcionais que penalizam apenas o criador , prática ainda comum no mercado.
Outro ponto crítico é a exclusividade, que pode barrar oportunidades em uma época em que campanhas do mesmo segmento chegam juntas. Sem delimitação clara, o influenciador perde mais do que ganha.
Black Friday: quando tudo intensifica
O fim do ano é o momento em que qualquer falha contratual vira bola de neve. Com o grande volume de campanhas, criadores funcionam quase como pequenas produtoras, lidando com vários clientes ao mesmo tempo , e é aí que o contrato bem estruturado vira respiro.
Maria Eduarda explica que o caminho mais seguro é detalhar o cronograma dentro do contrato:
“Datas para envio de briefing, aprovação de roteiro, entrega de conteúdo, prazo para feedback da marca e limite de rodadas de alteração.”
Pagamentos fracionados também ajudam a evitar prejuízos, especialmente quando o termo “30 dias após o fim da campanha” é usado sem esclarecer quando esse “fim” realmente acontece.
Por fim, a advogada chama atenção para cancelamentos de última hora, prática que ainda acontece e prejudica especialmente quem recusou outras campanhas para cumprir a exclusividade.
Ela lembra que o contrato pode , e deve , prever multa ou pagamento mínimo nesses casos.

