A forma como consumimos conteúdo mudou , e as emissoras de TV, antes donas absolutas da atenção, agora precisam reaprender a jogar. Nos últimos meses, gigantes do setor como Globo, Record e Paramount anunciaram novos movimentos que mostram uma transição clara: a televisão está se tornando cada vez mais parecida com as redes sociais.

A Globo apresentou nesta semana o GETV, projeto que amplia a integração com o Globoplay e marca a chegada dos microdramas, novelas curtas pensadas para o consumo em celulares e redes sociais. O conteúdo será gratuito e distribuído nas próprias plataformas digitais da emissora, em um formato que lembra os vídeos seriados de TikTok e Instagram.

Enquanto isso, a Record aposta na força do buzz digital. As cenas e cortes de programas como A Fazenda viralizam diariamente, transformando a audiência online em termômetro de relevância. Já a Paramount decidiu ir além: encerrou alguns de seus canais lineares para focar em produção sob demanda, deixando claro que o futuro da TV passa, inevitavelmente, pela internet.

Para Eduarda Camargo, CGO da Portão 3 (P3), esse movimento é um sinal de amadurecimento do setor:

 “A televisão está dando um passo à frente. Mesmo que o Brasil ainda tenha uma base enorme de pessoas que consomem TV aberta, as novas gerações já vivem no digital. Esse movimento de criar formatos curtos, investir em streaming e integrar redes sociais mostra que as emissoras entenderam: a audiência não é fixa, ela é fluida. Hoje, assistir é uma experiência multiplataforma. A TV que sobrevive é a que se antecipa, criando omnicanalidade, migrando a linguagem e conectando dados.”

Essas mudanças revelam um ponto em comum: a TV está aprendendo com os creators. O novo público não espera o horário nobre , ele quer escolher o que ver, quando ver e em qual tela assistir. O modelo tradicional perde espaço para uma lógica de consumo fragmentado, dinâmico e personalizado.

“Estamos nos preparando para um futuro em que a TV 3.0 eliminará as barreiras entre antena e internet. A nova geração de TV digital permitirá que o público acesse streaming e internet no mesmo dispositivo, integrando de forma natural o conteúdo linear e o digital”, explica Manuel Belmar, CFO da Globo.

Eduarda complementa essa visão:

“A TV 3.0 é o encontro entre o mundo tradicional e o digital. O futuro é que o conteúdo nasça na TV, continue nas redes, vire conversa e volte pra tela de novo. Vai ser tipo um ciclo. Quanto mais esse ciclo se retroalimenta, mais forte a marca se torna. A TV 3.0 na minha cabeça é isso: uma televisão viva, conectada, que usa dados para entender o público e adaptar o que entrega.”

Na prática, a televisão está adotando o mesmo mindset que transformou a Creator Economy: agilidade, escuta e adaptação. O sucesso não depende mais de audiência, mas de engajamento. O conteúdo precisa gerar conversa, clipe, corte , precisa viver além da tela.

E é simbólico ver as grandes emissoras, que por décadas ditaram o que o país assistia, agora buscando espaço no mesmo território onde nasceram os creators. O jogo virou: hoje, o feed dita o que vai ao ar.

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